terça-feira, 15 de dezembro de 2009

O COMÉRCIO INFORMAL E SUAS DINÂMICAS TERRITORIAIS: O CASO DA FEIRA DO APRAZÍVEL EM SOBRAL (CE)

ANALINE MARIA MARTINS PARENTE
NICOLAI VLADIMIR GONÇALVES DE ARAUJO

PALAVRAS-CHAVE
Território, Feira, Aprazível-CE

O comércio e os serviços são hoje uma alternativa aos problemas relacionados à geração de emprego e renda, principalmente nas proximidades das cidades médias brasileiras, pontos de concentração de crescimento econômico e exclusão a partir de políticas desenvolvimentistas governamentais. Este fenômeno da terceirização acaba por alterar os elementos da realidade que o cercam, modificando o próprio espaço e as relações sociais. Aprazível, distrito da cidade de Sobral-CE é um exemplo deste processo. Após a chegada de uma feira ao referido distrito, oriunda da cidade de Sobral, houve uma considerável transformação em seu espaço, sendo este reorganizado, estabelecendo novas relações, tanto nos modos de vida como na sua definição territorial. Ritmos são alterados e novos fluxos são estabelecidos, com uma velocidade e intensidade muito além dos existentes, a fim de adaptar a área a realidade decorrente da nova força motriz da vida local: o comércio ambulante.
Com base neste quadro citado estabelecemos como objetivo maior desta pesquisa a geração de subsídios empíricos e teóricos para o entendimento das dinâmicas territoriais geradas pela chegada da feira ao distrito de Aprazível, Sobral (CE).
O processo de pesquisa se iniciou com um levantamento bibliográfico a respeito do tema, envolvendo desde o arcabouço teórico até o método a ser utilizado. Sobre a ótica metodológica dialética foi possível compreender a dinâmica da Feira, desde as questões relativas à propriedade aos problemas espaciais, oriundos do processo histórico da feira, haja vista que o método compreende as mudanças que ocorrem neste ambiente. Essa revisão bibliográfica possibilitou ainda subsídios para a realização das primeiras atividades de campo, onde foram desenvolvidas entrevistas orientadas, além de observação das dinâmicas e as mudanças territoriais (divisão territorial do trabalho) na feira.
A partir das pesquisas realizadas ate aqui, percebemos que após a chegada da feira ao distrito de Aprazível, este passou por um processo de reorganização de seu espaço a fim de suprir as demandas do comércio informal. As mudanças mais aparentes foram o aumento da especulação imobiliária, o surgimento de atividades complementares à feira (restaurantes, lanchonetes) e ações como a construção de novos prédios, destinados à função de dormitórios, além do capeamento das avenidas com asfalto e reestruturação do sistema de abastecimento de água. Tais mudanças trouxeram benefícios para a população local, devido à geração de emprego, renda e da valorização dos espaços nos arredores da feira, que acabaram gerando uma disputa pelo controle do território local. Os fluxos gerados pela atividade da feira passam a ser alvo de interesses por parte de atores envolvidos em sua realização: feirantes, administradores (Associação), os sacoleiros, topiqueiros e os próprios moradores do Aprazível.
Mesmo com todos os conflitos e disputas identificados até aqui na pesquisa, podemos afirmar que a feira é essencial para o desenvolvimento econômico e social do distrito de Aprazível, visto que ela dá suporte para a geração de empregos diretos e indiretos, renda e arrecadação para entidades da categoria dos feirantes. O espaço da feira molda as relações sócio-espaciais em seu entorno, gerando uma extrema dependência do fenômeno informal da feira.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

A FEIRA LIVRE DE APRAZÍVEL (CE): CONFLITOS E DISPUTAS TERRITORIAIS

Analine Maria Martins Parente
Nicolai Vladimir Gonçalves de Araújo


RESUMO

O presente trabalho consiste em uma análise das dinâmicas territoriais ocorridas na Feira do Aprazível, localizada no distrito de mesmo nome, no município de Sobral (CE), onde após a chegada da já citada feira, ocorreu um processo de reorganização de seu território. Mudanças físicas (construção de prédios, casas, estradas, sistema de esgoto, etc.) e no modo de vida da população local. Os fluxos materiais e imateriais gerados por essa atividade passam, também, a ser alvo de interesse por parte dos atores envolvidos: feirantes, sacoleiros, administradores topiqueiros e moradores, gerando uma intensa disputa pelo controle deste território. Ao mesmo tempo e, apesar de inúmeros problemas relacionados a esta disputa, a feira é um elemento essencial para o distrito, dando suporte ao desenvolvimento do Aprazível (CE).

Palavras-Chave: Território, Feira, Aprazível-CE

O comércio e os serviços são hoje uma alternativa aos problemas relacionados à geração de emprego e renda, principalmente nas proximidades das cidades médias brasileiras, conforme Silveira (2004), pontos de diversificação da produção considerada locais de concentração de crescimento econômico e exclusão a partir de políticas desenvolvimentistas governamentais. Este fenômeno pautado por uma terceirização da produção acaba por alterar os elementos da realidade que o cercam, modificando o próprio espaço e as relações sociais. A Feira do Aprazível, como o próprio nome diz, localizada no distrito da cidade de Sobral-CE é um exemplo deste processo, pois apesar de ser uma atividade comercial, oriunda da cidade de Sobral, que chegou há aproximadamente oito anos ao referido distrito, ocasionou uma considerável transformação em seu espaço, sendo este reorganizado, estabelecendo novas relações, tanto nos modos de vida como na sua definição territorial. Ritmos são alterados e novos fluxos são estabelecidos, com uma velocidade e intensidade muito além dos existentes, a fim de adaptar a área a realidade decorrente da nova força motriz da vida local: o comércio ambulante.
Com base neste quadro inicial iniciamos uma pesquisa, cujo objetivo maior é a geração de subsídios empíricos e teóricos para o entendimento das dinâmicas territoriais geradas pela chegada da feira ao distrito de Aprazível, Sobral (CE). Como as ações impostas por este fenômeno, a feira, interfere na formação do território do distrito.
O processo de pesquisa se iniciou com um levantamento bibliográfico a respeito do tema, envolvendo desde o arcabouço teórico até o método a ser utilizado. Sobre a ótica metodológica dialética foi possível compreender a dinâmica da Feira, desde as questões relativas à propriedade aos problemas espaciais oriundos do processo histórico da feira, haja vista que o método compreende as mudanças que ocorrem neste ambiente. Essa revisão bibliográfica possibilitou ainda subsídios para a realização das primeiras atividades de campo, onde foram desenvolvidas entrevistas orientadas, além de observação das dinâmicas e as mudanças territoriais (divisão territorial do trabalho) na feira.
Do ponto de vista conceitual a Feira do Aprazível pode ser classificada, segundo Silveira (2004) como componente do circuito inferior, por compreendermos que a mesma caracteriza-se pela não utilização de técnicas modernas (no que diz respeito à produção), nem tão pouco a busca de investimentos em tecnologia, pois os produtos comercializados neste ambiente não são produzidos na feira.
Percebemos neste momento inicial da pesquisa que após a chegada da feira ao distrito de Aprazível, este passou por um processo de reorganização de seu espaço, tudo com a finalidade de suprir as demandas do comércio informal recém chegado. As mudanças mais aparentes foram, no primeiro momento, o aumento da especulação imobiliária, já que a mesma exigiu espaços adequados para a hospedagem dos feirantes. Os imóveis passaram por um processo de supervalorização com o aumento do preço dos aluguéis das casas e pousadas, assim como dos terrenos nos arredores da feira.
Um fator relevante o surgimento de atividades complementares à feira (restaurantes, lanchonetes) e ações como a construção de novos prédios, destinados à função de dormitórios, além do capeamento das avenidas com asfalto e reestruturação do sistema de abastecimento de água. Em relação à própria feira houve uma melhoria na infra-estrutura das barracas, estas foram readaptadas com o objetivo de um melhor atendimento para os sacoleiros, outras foram estruturadas no formato de lojas, localizadas nos arredores da mesma.
Tais mudanças trouxeram benefícios para a população local, devido à geração de emprego, renda e da valorização dos espaços nos arredores, além do que trouxe melhorias no atendimento aos compradores, fatores estes que acabaram gerando disputas pelo controle do território local. Os fluxos gerados pela atividade da feira passam a ser alvo de interesses por parte de atores envolvidos em sua realização: feirantes, administradores, sacoleiros, topiqueiros e os próprios moradores do Aprazível.
Outro ator que compõe este cenário é a Associação dos Feirantes do Aprazível (AFA) que surgiu devido à necessidade de uma entidade da categoria que fosse responsável pela administração da feira. O papel da associação hoje é cuidar da arrecadação financeira das barracas, coletadas semanalmente, cujo dinheiro é utilizado no pagamento dos funcionários (seguranças, cobradores, técnico de enfermagem, zeladores) que cuidam do espaço da feira, na manutenção de um ambulatório de primeiros socorros, concertos das barracas quebradas, sistema de auto-falante, assim como das atividades desenvolvidas pelos administradores. Apesar de a Associação ser uma entidade responsável pelo atendimento das necessidades dos feirantes, ao mesmo tempo ela gera descontentamento e oposições entre os associados.
Mesmo com todos os conflitos e disputas identificados até aqui na pesquisa, podemos afirmar que a feira é essencial para o desenvolvimento econômico e social do distrito de Aprazível, visto que ela dá suporte para a geração de empregos diretos e indiretos, renda e arrecadação para entidades da categoria dos feirantes. O espaço da feira molda as relações sócio-espaciais em seu entorno, gerando uma extrema dependência do fenômeno informal e ao mesmo tempo uma intensa disputa territorial pelo controle do poder no distrito.