quarta-feira, 28 de abril de 2010

DINÂMICAS E CONFLITOS TERRITORIAIS NA FEIRA DO APRAZÍVEL - SOBRAL (CE)

Analine Maria Martins Parente
Orientanda - Geografia – UVA - analine.p@hotmail.com
Ms. Nicolai Vladimir Gonçalves de Araújo
Orientador - Geografia – UVA – nvga2009@gmail.com


RESUMO

O referido trabalho, decorrente de um Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), consiste em uma análise das dinâmicas territoriais ocorridas na Feira do Aprazível, localizada no distrito de mesmo nome, no município de Sobral (CE), onde após a chegada da já citada feira, ocorreu um processo de reorganização de seu território. Mudanças físicas (construção de prédios, casas, estradas, sistema de esgoto, etc.) e no modo de vida da população local. O ambiente estudado na pesquisa é um exemplo deste processo, pois apesar de ser uma atividade comercial, oriunda da cidade de Sobral, que está a aproximadamente nove anos no referido distrito, ocasionou uma considerável transformação em seu espaço, sendo este reorganizado, estabelecendo novas relações, tanto nos modos de vida como na sua definição territorial. Os fluxos materiais e imateriais gerados por essa atividade passam, também, a ser alvo de interesse por parte dos diversos atores envolvidos: feirantes, sacoleiros, administradores, topiqueiros e moradores, gerando uma intensa disputa pelo controle deste território. Ritmos são alterados e conflitos territoriais foram estabelecidos devido à grande circulação de capital no ambiente de feira, haja vista que o território passa a ser valioso para os que dele dispõe, conforme afirma Haesbaert (2006). O Território, assim, tem a ver com poder, mas não apenas ao tradicional “poder político”. Ele diz respeito tanto ao poder no sentido mais explicito, de dominação, quanto ao poder no sentido implícito ou simbólico, de apropriação. Com base neste quadro iniciamos uma pesquisa, cujo objetivo maior é a geração de subsídios empíricos e teóricos para o entendimento dos conflitos territoriais gerados entre os principais agentes deste fenômeno, além de buscar entender como esse processo molda as dinâmicas ocorridas neste ambiente. A pesquisa se iniciou com um levantamento bibliográfico a respeito do tema, envolvendo desde o arcabouço teórico até o método a ser utilizado. Sobre a ótica dialética tornou-se possível compreender a dinâmica da feira, desde as questões relativas ao conceito de território, aos problemas espaciais provenientes do processo histórico da feira, haja vista que o método compreende as mudanças que ocorrem neste ambiente. Para tanto a revisão bibliográfica gerou ainda subsídios para a realização das primeiras atividades de campo, onde foram desenvolvidas entrevistas orientadas, além da aplicação de cem (100) questionários, de forma exploratória. Os fluxos gerados pela atividade da feira passam a ser alvo de interesse, o controle de uma área pelo controle de sua acessibilidade, onde os principais agentes causadores do conflito são: a AFA (Associação dos Feirantes de Aprazível), feirantes cadastrados e os “sem-terra” (feirantes não cadastrados na AFA), os mesmos competem no espaço da feira na busca por vendas e localização privilegiada. Grande parte das disputas ocorre pelo fato dos “sem-terra” se localizarem na entrada da feira, ponto onde segundo os feirantes, seria mais oportuno para as vendas. A Associação dos Feirantes de Aprazível (AFA) é uma entidade que existe há oito anos, a mesma foi criada um ano após a chegada da feira. A Associação tem por finalidade cuidar da arrecadação financeira das barracas, coletadas semanalmente, cujo dinheiro é utilizado no pagamento dos funcionários (seguranças, cobradores, técnico de enfermagem, zeladores) que cuidam do espaço da feira, na manutenção de um ambulatório de primeiros socorros, concertos das barracas quebradas, sistema de auto-falante, assim como das atividades desenvolvidas pelos administradores. Apesar de a Associação ser uma entidade responsável pelo atendimento das necessidades dos feirantes, ao mesmo tempo ela gera descontentamento e oposições entre os associados. Ao mesmo tempo em que a feira provoca um expressivo crescimento para o comércio local, além da supervalorização dos espaços nos seus arredores, transformando pequenos espaços em empreendimentos imobiliários, a chegada desta atividade comercial, trouxe alguns problemas sociais, como é o caso das pequenas gangues organizadas para a realização de pequenos furtos nas mercadorias das barracas, a prostituição, expressiva devido ao aumento de pessoas e o comércio de drogas nos dias de feira. Devido a sua considerável circulação financeira, a feira passou a ser alvo de interesse políticos também, haja vista que no período eleitoral ela passa a ser visitada constantemente por candidatos e políticos, tentando mostrar interesse com os problemas encontrados, prometendo melhorias na infra-estrutura além da liberação de projetos de apoio ao comércio varejista. Decorrente disso temos o caso do projeto para construção do Galpão dos Feirantes, com capacidade para 1.000 boxes, além de espaços para restaurantes, banheiros, provadores e estacionamento para carros de pequeno ou grande porte. A desapropriação do terreno para a construção do galpão foi assinada em novembro de 2007, mas até o momento não tem data marcada para o inicio das obras. Mesmo com todos os conflitos e disputas identificados até aqui na pesquisa, podemos afirmar que a feira é essencial para o desenvolvimento econômico e social do distrito de Aprazível, visto que ela dá suporte para a geração de empregos diretos e indiretos, renda e arrecadação para entidades da categoria dos feirantes. O espaço da feira molda as relações sócio-espaciais em seu entorno, gerando uma extrema dependência do fenômeno informal e ao mesmo tempo uma intensa disputa territorial pelo controle do poder no distrito.